Professora cobra controle de poluição sonora e emociona vereadores com relato sobre filho com TEA

Por R. Teles 20/08/2025 #Matérias
img

Foto:

A sessão ordinária da Câmara Municipal de Várzea Alegre desta quarta-feira, 20 de agosto de 2025, foi marcada por uma manifestação respeitosa e contundente da professora Carla Vânia Leal Batista, que utilizou a Tribuna Livre para abordar os impactos da poluição sonora na rotina de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mãe de uma criança autista nível 3, não verbal, Carla relatou com firmeza e serenidade os efeitos negativos causados por ruídos excessivos em eventos esportivos, como o recente Campeonato Municipal de Futebol, realizados no Estádio Juremal, no bairro onde reside.

A professora solicitou à Câmara que o tema seja analisado com sensibilidade, propondo a construção de políticas públicas de acessibilidade sensorial, de modo que o direito ao lazer e à cultura não se sobreponha ao bem-estar de moradores e, sobretudo, de pessoas em condição de vulnerabilidade neurossensorial.

A participação de Carla Vânia na Tribuna Livre foi precedida por um episódio ocorrido na sessão da semana anterior, quando o vereador Michael Martins leu uma carta escrita por ela, relatando o sofrimento vivenciado por seu filho diante da exposição a sons de alta intensidade. Na ocasião, houve um acirramento de ânimos entre Michael e o vereador Otoniel Júnior. Otoniel argumentou que respeita plenamente os direitos das pessoas com TEA, mas ponderou que o Estádio Juremal possui uma dinâmica ruidosa tradicional, associada à vibração natural das torcidas. Michael, por sua vez, acusou o colega de falta de empatia. Otoniel solicitou um aparte para responder, o que foi negado, resultando em um bate-boca entre os dois.

Com sobriedade, Carla confirmou publicamente a autoria e a veracidade do conteúdo da carta lida por Michael, assegurando que sua manifestação foi corretamente interpretada e reforçando que sua intenção era propor mediações viáveis — e não atacar setores da cultura ou do esporte.

Repercussão no plenário e encaminhamentos

Durante sua fala, Carla detalhou o impacto da poluição sonora na saúde do filho, mesmo com o uso de abafadores de alta proteção, e destacou que buscou soluções institucionais antes de procurar a Câmara, tendo levado vídeos e laudos à Secretaria de Meio Ambiente. Apesar de ter recebido uma resposta formal de que medidas haviam sido adotadas, novos episódios de barulho excessivo ocorreram, agravando o quadro clínico da criança.

A explanação sensibilizou os parlamentares. O vereador Michael Martins reafirmou seu compromisso com as causas da inclusão e elogiou a coragem da professora, ressaltando que o poder público precisa garantir voz e acolhimento às minorias. O vereador Otoniel Júnior, em tom conciliador, reconheceu a relevância do tema, lamentou a repercussão negativa de sua fala anterior, dizendo que seu objetivo, quando pediu o aparte, era exatamente na direção de solução e informou que protocolou um projeto de indicação para a criação de um programa municipal voltado à atenção à hipersensibilidade auditiva infantojuvenil.

Também se pronunciaram os vereadores Luiz do Conselho, Ciete do Sindicato e Alan Salviano, que reconheceram a necessidade de políticas públicas que contemplem a acessibilidade sensorial. Todos elogiaram a clareza, a serenidade e o equilíbrio da manifestação da professora.

Encerramento

Carla Vânia agradeceu o acolhimento da Casa, colocou-se à disposição para colaborar tecnicamente com propostas de inclusão e reiterou que sua luta é por diálogo, respeito e soluções conjuntas. O episódio evidenciou a urgência de se pensar a cidade também sob o ponto de vista das pessoas com deficiência — e o papel fundamental do Legislativo nesse processo.

Foto: Fábio Oliveira

Deixe o seu comentário

Qual o seu nível de satisfação com essa página?

ATRICON